Novas exigências fizeram o segmento de cosméticos, perfumaria e higiene pessoal passar por mudanças

Com o crescimento deste segmento nos últimos anos, a logística ficou mais agressiva e teve seu nível de importância elevado. Daí ter sido obrigada a passar por mudanças, inclusive para atender ao e-commerce.

Dados mundiais apontam que o Brasil é responsável pelo consumo de 9,4% de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. No mercado latino-americano, por sua vez, a fatia brasileira consumida é su- perior a 50%. Apesar de continuar seguindo como o terceiro maior mercado consumidor mundial de produtos de beleza, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, quando a questão é mercado consumidor, o Brasil salta para a segunda posição como consumidor mundial de produtos masculinos, infantis e para cabelos. Por outro lado, os produtos masculinos estão ocupando uma fatia interessante desse mercado. Seguramente, a logística tem grande responsabilidade para que o setor se mantenha no topo e aquecido. Mas, para isto, ela foi obrigada a passar por mudanças significativas nos últimos anos, atendendo às novas solicitações do mercado.

“Com o crescimento que esse segmento obteve nos últimos anos, a logís- tica ficou mais agressiva e teve seu nível de importância elevado. Isso porque, de nada adianta elaborar produtos de alta qualidade e com preços corresponden- tes, se a mercadoria não chegar ao cliente final com qualidade e velocidade”, co- menta Herminio Mosca Junior, diretor da Mosca Logistica (Fone: 19 3781.2222), empresa que atua com transporte rodo- viário de cargas fracionadas.

A complexidade aumenta e os OLs pre cisam se adaptar a esta nova realidade, utilizando novas ferramentas e processos.

“Com a forte expansão do setor e a grande diversificação de produtos na busca de novos mercados consumidores, além do incremento de vendas pelos canais virtuais – e-commerce –, houve um maior fracionamento na distribuição, principalmente nas vendas domiciliares, abrindo um leque de oportunidades e especializações para os OLs e as trans- portadoras”, complementa Luiz Carlos Pozzer Rosa, diretor comercial da TA (Fone: 19 2108.9000), empresa que opera com transporte rodoviário e aéreo.

Elaine Saraiva, especialista de Negócios da Elog Logística (Fone: 11 3305.9999), que opera no modal rodoviário, também expõe que atuar no segmento está cada vez mais desafiador, com muitos canais de distribuição até o consumidor final e crescimento repre- sentativo no e-commerce.

Todavia, as mudanças ocorridas nos últimos anos no segmento de cosméti- cos, perfumaria e higiene pessoal não ficam apenas nestas. Jerry Adriano Longo, gerente corporativo de frota da Cooper- carga (Fone: 49 3301.7000) – que atua no modal rodoviário – diz que “nos últi- mos anos vínhamos percebendo, devido ao aumento da demanda do mercado, que havia solicitação por veículos com maior capacidade de cubagem, já que, dependendo do tipo de mercadoria, o peso não é tão significativo. Porém, com o aumento dos roubos de cargas, essa solicitação vem caindo por terra”.

Por seu lado, Anderson Neves Gomes, gerente comercial da Delog Logística que atua com transporte rodoviário, relata que nos últimos anos o Operador Logístico vem se adequando ao perfil de exigência nas entregas, o que impactou no modo como ele hoje exerce suas atividades. Uma das principais mudanças foi a modernização nos sistemas de TI, facilitando em real time as informações, tanto ao fornece- dor, quanto ao destinatário. Outra mudança significativa que ocorreu – ainda segundo Gomes – foi a logística de com- partilhamento, onde todos saem benefi- ciados, com uma distribuição unificada de produtos diversos no mesmo veículo, contribuindo para um custo menor e um benefício ao trânsito e o meio ambiente. “Temos observado um foco cada vez maior na redução de custos e, também, uma consolidação de prestadores de serviço no segmento”, completa Fabrício Orrigo, diretor de vendas e marketing da Penske Logístics que trabalha com transporte rodoviário, aéreo e cabotagem.

Márcio de Cantuário Pereira, gerente comercial da Transcompras Transportes e Compras Comerciais (Fone: 11 3927.2050), que atua no transporte rodoviário, também fala que os consu- midores estão cada vez mais exigentes com relação ao preço, eficácia e qualidade e, em contrapartida, as empresas procuram baixar os seus custos para não aumentar o preço do produto e, assim, não perder para a concorrência.

Por falar em exigências, Marcio Schelmam Velten, CEO da Velten Logistica e Transportes – VeltenLOG (Fone: 27 3064.7450), que oferece transporte rodo- viário, há também aquelas da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. “A Agência passou a ser mais rigorosa no cumprimento da lei que rege o transporte destes tipos de produtos. A lei sempre existiu, mas poucos a seguiam, e com as novas exigências, acreditamos que agora teremos uma concorrência leal.”

Problemas

Trabalhar com produtos de higiene pessoal, além de cosméticos e perfumaria, não é tão simples como possa parecer. Nas contas de Longo, da Coopercar- ga, estes problemas incluem: riscos de roubos de cargas; nível de exigências decorrentes do PGR; forte sazonalidade do mercado (impactos de demandas); e por não ser um produto de necessidade primária, pode ter oscilações de demanda. “Trata-se de um setor que remunera diferente, já que os produtos têm maior valor agregado. Logo, é preciso se cercar, na medida do possível, de medidas de segurança para evitar prejuízos e atuar em diversas frentes que permitam não sentir tanto o impacto da sazonalidade ou da baixa demanda”, comenta o gerente corporativo de frota. A estes itens, Pereira, da Transcompras, acrescenta outros: insumos/matérias primas com baixo prazo de qualidade, portanto, tem que se comprar com eficiência para não haver perdas gerando prejuízos na produção; e custos altos no transporte devido à falta de conservação nas estradas e, também, à falta de infraestrutura para a rapidez na entrega. “Para resolvermos es- tes problemas, dependemos, infelizmente, do poder público, ou da união de empre- sários para tentar fazer com as próprias mãos estas melhorias que são necessárias para baixar todos os custos da cadeia logística”, completa o gerente comercial.

E há mais problemas, segundo Marcio, da VeltenLOG: canibalismo nas tabelas de frete, alta burocracia do setor públi- co nas liberações das documentações exigidas para realizar a atividade e difi- culdade em cumprir as exigências impostas pela ANVISA.

Já Elaine, da Elog Logística, lembra que alguns destes produtos são delicados e exigem um monitoramento na tempera- tura, tanto para armazenar, quanto para transportar, e também controle de umi- dade. É importante ter uma embalagem adequada/resistente e cuidados espe- ciais no manuseio para evitar avarias.

Por falar em embalagem, Wanderley Rodrigues Soares, diretor presidente da Unicargo Transportes e Cargas (Fone: 11 2413.1700), que oferece transporte aéreo, complementado com coleta e entrega ro- doviárias e até o transporte fluvial, lembra que o setor atua com embalagens muitas vezes inapropriadas para transporte, favo- recendo avarias. Segundo ele, quando não é possível mudar a embalagem, em alguns casos, a utilização de caixas resistentes (Big Box) para unitizar lotes é uma solução.

Além disso – continua a especialista de Negócios da Elog Logística –, é importante que o OL tenha flexibilidade e capacidade de oferecer serviços de logística integrada e serviços de valor agregado, bem como desenvolver projetos personalizados e em área climatizadas. “Sem a estrutura ne- cessária exigida pelos órgãos anuentes, o segmento tem oferta de serviços razoável, mas ainda sofre com a falta de disponibilidade e concorrência, mantendo os custos altos para se operar”, emenda Lordello, da RAI Armazéns Integrados.

Outro problema no setor, agora levantado por Herminio, da Mosca Logistica, corresponde à velocidade – ou a falta dela – nos recebimentos dos destinatários. Por terem uma grande quantidade de SKU ́s (códigos), a conferência é lenta e demanda uma equipe maior para dar suporte aos destinatários, onerando diretamente os custos envolvidos e gerando possíveis rupturas nas gôndolas. A solução desse problema, diz o diretor, passa pela equalização do faseamento das vendas, possibilitando um planejamento logístico mais eficiente, com redução dos estoques e, também, pela melhoria na estrutura dos pontos de recebimentos, o que reduziria o tempo entre a coleta e a entrega e os custos envolvidos.

“Para os transportadores, as maiores dificuldades estão nos pontos de entregas, com demoras excessivas para recebi- mento, agendamento prévio de horários, exigências específicas do recebedor. Para superar tais dificuldades, os transportadores se obrigam a fazer investimentos extras em pessoas, treinamentos e tecnologia embarcada em seus veículos, que certamente agravam os custos opera- cionais nem sempre reconhecidos pelos embarcadores”, acrescenta Rosa, da TA.

Concluindo a análise deste tópico, Claudia, do Grupo TPC, destaca que a complexidade das operações deste segmento envolve o fracionamento e a alta capilaridade, aliados às exigências regulatórias e de qualidade cada vez mais rígidas. Segundo a diretora comercial, este cenário é agravado “à medida que operamos num país com problemas de infraestrutura e carência de mão de obra qualificada. Estes empecilhos podem ser minimizados com o uso de novas tecno- logias e boa gestão”.

OLs e transportadoras

Diante deste quadro, qual a importân- cia do OL e da transportadora neste segmento, como forma de garantir a entrega do produto final em perfeitas condições. O que lhe cabe? O que pode dar errado?É importante reforçar que a respon- sabilidade de um OL é enorme, pois ele tem a missão de atender toda a cadeia de suprimentos, seja no momento do transporte da matéria prima, armazena- gem, transferências de produto acabado, distribuição ao consumidor final, etc. Há, inclusive, certa confusão entre o que um OL faz e o que o transportador faz.

Mas – ainda segundo Longo, da Coopercarga –, indiferente disso, é fundamental que o transportador tenha ciência da expectativa do cliente e do que ele deve fazer para que esta expec- tativa seja atendida. “Quando falamos em transporte, o diferencial está em agregar valor, fazer algo a mais do que estava proposto, ou seja, contribuir para o sucesso do processo de modo geral, mais amplo. Como isso pode ser feito? Observando riscos, possíveis perdas e seus motivos, sinalizando o embarcador sobre a insatisfação dos clientes com algo, retornando ao embarcador o que o mercado sinaliza quando está rece- bendo o produto, etc. Outro fator muito importante é quanto ao cumprimento de prazos: é fundamental que não se crie expectativas que não façam parte do processo ou que não possam ser cumpridas”, ensina o gerente corpora- tivo de frota da Coopercarga.

De fato, Gomes, da Delog Logística, destaca que, hoje em dia, o fornecedor e os clientes não possuem áreas destinadas ao estoque, portanto, a função dos OLs é a redução do tempo entre logística dos processos de fabricação e o produto no ponto de venda, garantindo a entrega em perfeito estado. “A condição advém de nossa malha viária ser precária, e muitos destinatários ainda receberem vários veí- culos em suas áreas de descarregamento. A conscientização em unitização de car- gas, que diminuiria o lead time das entregas, vem em passos lentos”, comenta o gerente comercial da Delog Logística.

Pereira, da Transcompras, também crê que o Operador Logístico tira um peso da responsabilidade e separa de vez os módulos logísticos, e com isto a empresa foca nas negociações de matéria prima, produção, marketing e monitoramento de vendas/pós-vendas, enquanto o Operador Logístico administra o estoque, o transporte e a distribuição/entrega, tam- bém com monitoramento de entregas. Esta separação garante uma melhor or- ganização logística que vai garantir a en- trega do produto final em perfeitas condições. “Agora, o que pode dar errado é que mesmo que separadas, precisam de sinergias, ou seja, precisam se comuni- car entre si para não haver rupturas em qualquer que seja a fase do processo”, aponta o gerente comercial.

fototiago

Herminio, da Mosca Lo- gistica, também diz que a importância do OL e da transportadora teve elevação nos últimos anos, pois foi fator preponderante da qualidade final do produto. Agilidade nas entregas, integridade dos volumes e velocidade nas informações são os fatores preponderantes para elevar a quali- dade dos produtos e têm interferência direta do OL e transportador. “O OL e a transportadora têm um papel muito importante neste segmento, pois falhas no processo de armazenagem e transporte podem afetar desde a característica do produto – uma falha no controle de temperatura, por exemplo –, até um extremo maior, de impactar a saúde do cliente final”, completa Orrigo, da Penske.

Perri, da RAI Armazéns Integrados, também afirma que o Operador Logístico, na condição de transportador, pode trazer maior flexibilidade nas entregas através do setup de uma rede de distrbuição personalizada. Os controles de monitoramento do transporte são, mais uma vez, pontos chave para o sucesso. Prazos de entrega são acompanhados a risca e tratados como SLAs (Níveis de Serviço Contratado), bem como os registros de agendamento e notificações sis- têmicas para reposição de produtos em estoque. “Os envolvidos na cadeia logística devem possuir agilidade emeus processos e qualidade no manuseio para garantir a agilidade necessária ao segmento”, complementa Soares, da Unicargo.

Perri, da RAI: O OL, na condição de transportador, pode trazer maior flexibilidade nas entregas, através do setup de uma rede de distribuição personalizada

Elaine, da Elog Logística, emenda que para o OL e a transportadora, o desafio é manter uma equipe treinada com boas práticas para atendimento e conhecer bem as exigências dos canais de distribuição. Ainda de acordo com ela, é importante ter farmacêutico técnico responsável em horário integral e realizar controle de validade e temperatura.

“Para garantir que tenhamos os itens certos, nas quantidades corretas, para os clientes certos, com os produtos na codição física adequada e no menor prazo, é imprescindível que o Operador Logístico tenha capacidade técnica e invista em tec- nologia e qualificação da mão de obra”, complementa Claudia, do Grupo TPC.

joao Lordello

Na visão de Rosa, da TA, com o crescimento de importações, que requerem serviços específicos de adaptação ao mercado nacional, como etiquetação, em- balagens e preparação de kits promocio- nais, e também para os nacionais, os OLs tornaram-se muito mais importantes para garantir o controle de estoques e gerenciamento da expedição e distribuição dos produtos aos canais de comercialização: atacados, distribuidores, varejos e domicílios. Ainda segundo o diretor comercial, poucos são os Operadores Logísticos especializados nesse segmento, capazes de desenvolver, implantar e operar soluções de maior alcance e complexidade.

Lordello, da RAI: O segmento tem oferta de serviços razoável, mas sofre com a falta de disponibilidade e concorrência, mantendo os custos altos para se operar

Conteúdo extraído da Revista LOGWEB junho-2017

http://www.logweb.com.br/revista/edicao-180-junho-2017/

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